Espírito, perispírito e corpo material
Muitos temem os Espíritos, como se fossem sombras a espreitar na noite. Mas o que somos nós, senão Espíritos revestidos temporariamente pela carne? Conhecer o Espírito é desvendar a essência da própria existência e dissipar os véus do medo.
Quando o viajante solitário contempla o deserto infinito, buscando compreender sua jornada, é o Espírito que lhe sussurra os mistérios da eternidade. Somos centelhas imortais, peregrinos do infinito, partículas de luz emanadas do Criador.
A Estrutura do Ser: Espírito, Perispírito e Corpo Material
Nos escritos antigos e nas tradições populares, muitos nomes foram usados para falar da alma: sombra, fantasma, sopro, essência... Mas a Doutrina Espírita, com a lógica dos céus e a organização feita por Allan Kardec, nos ensina que o ser humano é composto por três camadas fundamentais:
1 Espírito
Imagem ilustrativa para representar o ‘espírito’.
É a essência imortal, o princípio inteligente da criação, criado por Deus para evoluir pela senda da experiência eterna. O Espírito é o “eu” profundo, a consciência que pensa. Não tem forma, cor, sexo ou matéria - é luz em estado puro.
Conservam suas lembranças, suas tendências, seus sentimentos. Por vezes sábios, por vezes ignorantes; por vezes benevolentes, por vezes zombeteiros. O mundo espiritual é como o mundo dos homens, só que liberto das amarras do tempo e da carne.
Na questão 76 em "O Livro dos Espíritos", Allan Kardec indagou:
Pergunta : O que é o Espírito?
Resposta : Pode-se dizer que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o universo, fora do mundo material.
No Capítulo I do “Livro dos Médiuns”, os Espíritos são descritos como as almas dos homens que viveram, que vivem e que viverão, pois não morrem, apenas mudam de morada. Eis o véu levantado: os Espíritos somos nós - antes do nascimento, além da morte, eternamente em evolução. Não são espectros vagando sem rumo, mas consciências vivas, ora vestidas de carne, ora livres no sopro invisível do mundo espiritual.
Para se manifestarem, utilizam o perispírito, esse manto invisível à matéria do homem que lhes confere forma, expressão e ação. É por meio dele que se fazem ver, ouvir ou sentir.
O Livro dos Médiuns nos recorda: é preciso prudência ao escutar uma voz do além. Nem tudo que brilha vem do Alto, e nem todo Espírito é mensageiro da verdade. É pelo critério moral, pela coerência e pela humildade que reconhecemos os que vêm em nome da luz.
2 Perispírito
Imagem ilustrativa para representar o ‘perispírito’.
Entre o espírito, essência divina, e o corpo de carne, que é poeira da terra (“porque és pó, e ao pó tornarás” - Gênesis 3:19), existe um envoltório sutil e semimaterial que os une, um intermediário um ao outro: o perispírito.
A questão 93 em ‘O Livro dos Espíritos’, nos esclarece sobre perispírito:
Pergunta : O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer?
Resposta : Envolve-o uma substância, vaporosa para ti, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.
É composto por uma substância fluídica, extraída do fluido cósmico universal, adaptada ao mundo em que vive o Espírito. O perispírito guarda impressões de vidas passadas, registra nossas emoções e pensamentos, e modela nossa aparência espiritual de acordo com nosso grau de elevação moral. Eis por que os Espíritos superiores se apresentam com formas suaves e serenas, enquanto outros, ainda presos ao vício ou ao ódio, refletem em sua forma as dores que ainda carregam no íntimo.
André Luiz descreve o perispírito como o “modelo organizador biológico”, ou seja, é com base nele que o corpo físico é formado. Como a túnica do peregrino que o protege do vento, o perispírito envolve o Espírito, permitindo que ele atue no mundo visível ou invisível, conforme as leis do plano em que habita.
O perispírito pode carregar dores, feridas, culpas e marcas de escolhas infelizes - não como punição, mas como reflexo da própria consciência em desequilíbrio. Moldável e sensível ao pensamento, ele responde à natureza das ideias e sentimentos que o Espírito cultiva. Por isso, Espíritos perturbados podem apresentar formas disformes. Por outro lado, nos Espíritos superiores, o perispírito é luz pura, translúcida e serena, irradia beleza e serenidade, como um halo de paz que os precede. Ele vibra em sintonia com o amor, a humildade e a caridade.
Se o Espírito é o viajante e o corpo físico é o veículo, o perispírito é o manto - veste luminosa ou sombria, conforme o tecido que nele bordamos com nossos atos. É ele quem guarda a forma humana após a morte.
É o perispírito que atravessa os sonhos, que aparece nas visões dos médiuns, que vibra quando oramos e que estremece quando odiamos. Ele é a alma vestida para a eternidade.
3 Corpo Material
Imagem ilustrativa para representar o ‘corpo material’.
O corpo material é o instrumento do Espírito no mundo terreno. Feito de pó, serve como morada passageira da alma em sua jornada de aprendizado. É como o veículo do viajante, que se gasta com o caminho, mas que lhe permite avançar rumo ao despertar.
Sendo o espírito imaterial, o perispírito semimaterial, corpo é material e denso.
Não é o ser verdadeiro, mas sim o cenário da experiência. Sem ele, não haveria como aprender a perdoar diante da ofensa, a persistir diante da dor, a renunciar diante do orgulho. É com as mãos que trabalhamos, com os olhos que observamos o belo e o feio, com a boca que semeamos palavras de luz - ou de trevas. Tudo isso, o corpo permite.
O corpo sente cansaço, fome, sede… e morre. Mas o Espírito, imortal, usa essas limitações para fortalecer a vontade, domar os instintos primitivos e desenvolver a virtude. Ele é templo e provação, ponte e limite. Mesmo que frágil, o corpo merece muito respeito. Não é uma prisão, mas um campo de trabalho sagrado.
Quando sua missão se cumpre, ele retorna ao seio da Terra. O Espírito segue vivo, consciente, envolvido ainda pelo perispírito - pronto para novos aprendizados, até que esteja preparado para voar sem asas, amar sem dor, viver sem fim.
E a Alma?
O termo “alma” é usado para designar o Espírito encarnado, ou seja, enquanto está ligado a um corpo de carne. Espírito e alma são, portanto, a mesma essência, vista sob condições diferentes.
A questão 134 em ‘O Livro dos Espíritos’, nos esclarece sobre alma:
Pergunta 134: Que é alma?
Resposta : Um espírito encarnado.
Pergunta 134 a: Que era a alma antes de se unir ao corpo?
Resposta : Espírito.
Pergunta 134 b: As almas e os Espíritos são, portanto, idênticos, a mesma coisa?
Resposta : Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente revestem um invólucro carnal para se purificarem e esclarecerem.